segunda-feira, 1 de junho de 2009

O braço da vacina


Eu sei que sumiu um avião. Eu sei que é uma tragédia sem precedentes, que tinha conhecidos da minha família no vôo.
Eu sei que tenho uma campanha e uma revista e uma reportagem para fazer.

Mas agora eu quero falar de um episodeozinho da minha infância.
Não que tenha nada a ver, mas aproveitando que já disseram que eu não ando escrevendo bem mesmo - daí eu tenho que lembrar que escrever bem nunca foi a proposta desse blog, ele surgiu lá em 2002 como uma espécie de lugar para purgar algumas misérias do meu dia-a-dia -, eu vou contar essa historinha. Ela não tem final nem moral, mas acho que ela define muito o nonsense da vida.

Eu tinha 5 anos, acho.
Era uma aluna vítima de bullying do Jardim de Infância - o bullying na minha vida só acabou na oitava série.
Daí, estava na época das vacinas, aquelas que ajudam as pessoas a definir qual é o braço esquerdo e qual é o direito e eu não lembo mais em que braço fica e está frio demais para eu ir ali olhar.
E, como minha escolinha era uma escolinha de infantes delinqüentes, mesmo que fosse particular, havia um jogo que era dar um soco no braço da vacina para ver o colega morrer de dor e chorar e todo mundo poder chamar o coitado de chorão.
Depois de muito levar socos sem chorar, a pequena Beatriz foi surpreendida por um coleguinha que pedia: Dá um soco no meu braço. E eu dizia: não, eu não sei dar soco.

Mas eu tô mandando.

Mas eu não posso. Vai machucar.

Mas eu tô mandando. Se tu não der, eu dou um soco no teu.

"mais um", eu pensei. E, agora com medo da dor que já estava insuportável, eu dei o soco.

O menino reclamou para as inspetoras, e eu fiquei de castigo num banquinho.
Eu sabia que isso ia acontecer, mesmo sendo injusto.
O que eu não sabia que ia acontecer era uma menininha bem pequeninha, junto com outro menino bem pequeninho, se sentarem, um de cada lado, me darem as mãos e não sairem dali enquanto meu castigo não acabasse.

Essa foi a primeira vez que eu me lembro de chorar até desidratar.

6 comentários:

Mari disse...

Nossa, que povo rebelde vem visitando seu blog!

Eu sou suspeita pra falar, gosto sempre! E foi bom "ouvir" uma historinha de infância, despertou ainda mais minha saudade.

Continue escrevendo, sempre!

isabel alix disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
isabel alix disse...

Tempo louco.
Veja só esta bela paisagem!

isabel alix disse...

Inspetoras fiasdaspooota.
Cara, fiquei de castigo na primeira série porque saí correndo em desespero para número 2. O que seria a alternativa? Fazê-lo em sala de aula?
Ó, tô pra te contar que o bullying na minha vida AINDA NÃO ACABOU. Apenas aprendi a evitar o caminho dos bullyers. E só. Porque se for bater em todos eles de volta, não sobrará tempo para mais nada, nem para dormir. Então tomo outro caminho, bem vazio, e contemplo a paisagem.

Bia disse...

Bel, eu acho que meu bullying também não acabou.

Guiga disse...

Ai, que história fofinha! Fiquei com peninha da pequena Beatriz!
Eu com 5 anos beijava um gurizinho escondida...a professora viu e foi contar pra minha mãe. Lindo, né?