segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Típico do ser humano

Eis que minha vida flutua sobre um mar de futilidades. Entre perfumes, sapatos, viagens e saldo negativo, surgem livros e filmes salvadores.

Meu companheiro de avião, ida e volta de Curitiba, Um bonde chamado desejo é mais uma pérola de Tennessee Williams de fascinar até a fã mais fanática do Nelson Rodrigues. Blanche Dubois. Se há uma personagem para que eu me identifique ei-la.

Daí, inevitável fazer um contraponto com uma Blanche mais atual, dos irmãos Cohen, Linda Litzke (magistralmente interpretada pela Frances McDormand), de Queime Depois de Ler - que, por incrível que pareça, eu só consegui ver ontem. A mulher de mais de 40 ou até 50 obstinada por mudar a aparência através de três ou quatro diferentes procedimentos de cirurgia plástica, para ficar mais atraente e continuar conhecendo homens pela internet. Em épocas sem tecnologia cirúrgica, Blanche tinha que se virar vivendo na sombra, para seguir pegando garotinhos de 17 anos. Ambas, por vaidade, mudaram o rumo de suas vidas e o mundo a sua volta.

A vaidade move o feminino. Numa espécie em que os machos só devem ser machos e as fêmeas devem ser super, o que me surpreende é aquele sopro de sensibilidade que anda surgindo no ex-sexo forte. Falo tanto da sensibilidade de interpretar almas femininas de um Tennessee Williams e de um Nelson Rodrigues, ou mesmo de um Cohen, como na sensibilidade que traz a inversão dos papéis. Não acho que papéis não possam ser invertidos, afinal, aqui fala o burro de carga que optou por prolongar a adolescência com muita responsabilidade profissional, mas nenhuma matrimonial.

O fato é que é até divertido, como numa propaganda de alguma cerveja aí mostra, sentir na pele essa inversão. Hoje é comum ter que se garantir para um mancebo que não vamos fazer nada que ele não queira. É normal ver cavalheiros de coração partido, ou acreditando em desculpas esfarrapadas como "bebi e não sei o que fiz" para justificar uma traição e muitas outras coisas que os antigos machos não se pemitiriam.

É interessante e até inovador. Começo a sentir os verdadeiros ares da libertação feminina se aproximando das terras brasileiras. Vai chegar o momento em que as expressões "típico de homem" e "típico de mulher" deixarão de existir.

9 comentários:

Pat S disse...

Ainda não vi, pasme, "Um bonde chamado desejo".
Vou cuidar disso.
Resolução de ano novo.
"Queime depois de Ler" eu assisti sem estar preparada pra isso. Fui na sessão do Clube do Professor pra ver "Vicky Cristina Barcelona" e o site tinha publicado o filme errado.
Que belo engano! "Queime depois de ler" está no meu TOP 10 desde então.

E sobre a tal da inversão, acredite, vai chegar o dia em que trocaremos a resistência do chuveiro.
Sei de moças que fazem isso de salto.

Bia, sou sua fã, tá?

edi disse...

trocar a resistência do chuveiro e abrir um pote de azeitona, não falta muito pra esse dia chegar não... =p

Comentarista Abalizado disse...

Oi, Bia!
Obrigado por elogiar meu blog.
Seus textos são ótimos.
Não sei se nos conhecemos... acho que não.
Bom, esse sou eu: http://www.orkut.com.br/Main#Profile.aspx?uid=10522812909982761360

Beijosss

Comentarista Abalizado disse...

Ah, mas esse seu texto é muito liberal. Tem uma opinião muito positiva sobre as mudanças que vemos.

Eu, ao contrário, tenho saudades dos tempos em que eram claros os papéis de homens e mulheres. Aliás, penso que até as mulheres gostavam de homens mais homens, com aquele tom rústico. Nem falo de grosseiros ou violentos, mas de macho com cara de macho.

Hoje, o que vemos por aí são arremedos de homens. Uns maricas indecisos e chorosos.

A coisa está tão feia, que tem homem usando calcinha (David Beckham)... e, os piores que ele, que fantasiam com isso.

Quanto mais as coisas de mulheres forem de homens, e as de homens forem de mulheres, mais bizarro o mundo vai ficar.

Anônimo disse...

É por isso que essa vaidade muda o mundo. Mulheres assim "podem ser culpadas de muitas coisas, menos de crueldade deliberada".

TiedyePoa disse...

Que Deus te ouça.

Anônimo disse...

INEVITAVEL esse ANDAR das coisas, e tomara que as relacoes homem-mulher EVOLUAM a esse ponto.

Mas acho que a personagem da Frances McNormand no filme dos Cohen seria mais um exemplo de "desespero triste" do que de "atitude 'eu sou mais eu'".

Mari disse...

Bia,
vi seu blog na lista da Pat S., essa que tá aqui em cima e adorei seus textos!
Vc não liga de ter mais uma seguidora, não, né?
Beijo!

Guiga disse...

Ainda não vi o "Queime..." mas verei ainda essa semana!
O Bonde eu só vi pedaços ("Stellaaaaaaa!!!") mas sei mais ou menos da história da Blanche.
No mais, a única coisa que vou comentar é sobre o que li acima: "Uns maricas indecisos e chorosos". Mulher assim já é irritante...homem, nem se fala!
No mais, acho que as mulheres estão adquirindo os piores hábitos masculinos, e vice-versa. Lamentável.