quarta-feira, 1 de setembro de 2010

O mito de Sísifo


"Os deuses tinham condenado Sísifo a empurrar sem descanso um rochedo até o cume de uma montanha, de onde a pedra caía de novo, em conseqüência do seu peso. Tinham pensado, com alguma razão, que não há castigo mais terrível do que o trabalho inútil e sem esperança."

Tô precisando ver se Sísifo saiu dessa e como saiu, se saiu.
Não li esse do Camus e a minha mitologia terminou nos deuses maiores.
Mas só preciso dizer que não há castigo maior do que o trabalho inútil e sem esperança.
E, pra variar, isso vale para todas as esferas da vida.

Muitas pessoas me perguntaram porque o blog parou.
Eu corro pra dizer que parou porque me acostumei com os 140 caracteres do Twitter, porque tenho mais feedback no Facebook. A verdade é que ele parou quando eu percebi que escrever para quem quiser ler é abrir um portal para um infinito de bizarrices.
Foi meigo enquanto, em 2002, eu era lida por pessoas que me conheciam, que entendiam as piadas internas e a internet não era o show da vida.
Foi legal quando o Love is an old fashioned word virou verde e pessoas que eu não conhecia começaram a ler e a comentar.
Ficou trash quando pessoas começaram a se apaixonar pelos textos, confundir com a escritora, levar isso adiante e se decepcionar com a pessoa real. Isso não aconteceu uma ou duas vezes. Mas, invariavelmente, quem levou na cabeça foi a autora.
Também foi trash quando, por lerem coisas baseadas em fatos reais, as pessoas começaram não a se identificar, mas a querer ajudar. Gente, quem ajuda é terapeuta. Amigo ri junto e, no máximo, abraça.

Por eu ter começado um blog na época que os blogs começaram, eu caí na ingenuidade de achar que a minha vida continuaria preservada mesmo depois de o Brasil virar um dos maiores consumidores de internet na face da Terra.
Quando comecei a perceber que estava sendo invadida no meu direito de ser uma prima donna das letras, aos poucos, eu diminui os dramas, parei de contar meus romances, meus fatos reais e o blog perdeu o sentido.
O processo de perda da criatividade começa quando a gente imagina o rosto exato do público se encantando ou desaprovando. O rosto do público devia ser sempre anônimo - e isso me lembra de famosos fóbicos sociais que são excelentes no palco, porque a luz ofusca a platéia.

A queixa do Sísifo dessa instância da minha vida é que ele empurrou a pedra legal até o topo, porque tava se divertindo com o exercício. Ele não queria cobranças de genialidade, não queria ex-apaixonados decepcionados porque a escritora não é perfeita como a personagem (o que eu chamo de má interpretação, uma vez que a personagem também é crivada de defeitos), ele não queria consolinhos, tapinhas no ombro, muito menos receitas de felicidade. Ele só queria empurrar a pedra, entende?

Desculpa a todos que só leram e se divertiram e não levaram nada do blog a sério since 2002. Era esse o espírito.