Prozac X Criatividade

Vinicius foi sábio em afirmar que para fazer um samba com beleza é preciso um bocado de tristeza, senão não se faz um samba não.

Trocando em miúdos, eu me lembro quando, lá pelo começo dos anos 90, o Bernard Summer, cantor do New Order, declarou que estava deixando de ser criativo pois, para não cair no mesmo destino do seu colega de Joy Division - o Ian Curtis -, ele sucumbiu ao Prozac, a droga lícita da felicidade.

E a felicidade, meus amigos, é o antídoto da criatividade.

Claro que nenhum Prozac, nenhuma Paroxetina algum dia conseguiram matar a tristeza do meu samba. Amenizavam outros sofrimentos, como medos, fobias, sono excessivo, melancolia. Mas felicidade, embora para algum inglês sem joie de vivre possa vir em drágeas, não se compra em farmácia. Felicidade é um estado de espírito. Vem de condições, de situações, de soma de elementos.

Hoje, eu reclamei que não estava escrevendo mais, ao menos não no blog, não para mim, não para vocês. Daí, o senhor da cadeira em frente me disse: permita-se não escrever às vezes. Pessoas que estão felizes vivem, não escrevem.

Daí, eu resolvi que iria escrever sobre isso. Sobre não escrever.

Não há meios de eu deixar de ter idéias, de fazer com que alguém não estrague meu dia algum dia, de viver para sempre no país das maravilhas. Mas meu samba não tá recheado da tristeza que balança. Fazer o quê?

Não se preocupem, o coitadismo não morre sem mais nem menos, não acabou para sempre. Mas e se hoje eu resolver não fazer um samba e compuser uma valsinha? um rock?

A garota enxaqueca pode estar fora da TPM um dia? Pode enxergar o mundo atrás de óculos cor-de-rosa?

Se puder, vou perder o medo e escrever mesmo sem a tristeza. Porque até ela tem esperança de um dia não ser mais triste não.