Ao longo dos meus 39 anos, eu sempre percebi um julgamento feminino e masculino em torno da fertilidade alheia. Fertilidade essa que é quase que diretamente ligada à faixa etária.
Namorei dois homens que contabilizavam o meu relógio biológico, fazendo pressão para que eu soubesse que eles queriam filhos DEPOIS, mas que, provavelmente neste DEPOIS, eu não mais poderia ser a reprodutora.
Nunca quis ter filhos e, para esses rapazes, minha opinião, meu corpo e minha vontade não mandavam em nada. Eles estavam à procura de um útero, não de uma mulher. De um deles, eu ouvi que ele estava com 30 e eu com 35. Mas ele só iria querer ter filhos quando tivesse uns 40, logo, eu iria ter 45. Provavelmente, não seria comigo que teria filhos. "Mas até lá, eu arranjo uma garota para ter filho com ela".
E o corpo da Bia, esse ser composto de peitos, côxas sem risca, bunda e xexeca, seria jogado fora. Cumplicidade, sentimentos, vivências, aprendizados, nada disso valeria a pena diante de um útero novinho em folha.
Tenho um amigo que endossa esse raciocínio e quer me provar por A + B que eu estou tentando combater uma lógica darwiniana. Já outro, disse que isso é coisa de brasileiro que é um povo machista e atrasado. Eu penso que a mulherada tem muito a conquistar ainda, principalmente no que diz respeito aos seus próprios corpos.
E isso inclui o direito de não poder ou não querer ser mães. E não serem menos admiradas, amadas e respeitadas por isso.